Quando falhas. Quando tens de colocar o plano B em ação. Quando percebes que não és infinita. E nisto tudo, porque deves ter uma wedding planner?

Nem todos os casamentos correm como temos planeado. Muitas vezes o plano B tem de dar lugar ao plano A e depois? Como ficam as expectativas dos noivos? E como se dá a volta ao texto rapidamente e à portuguesa? Tendo uma wedding planner, com certeza!

A Quinta da Pacheca, quem já me conhece e ao meu trabalho, sabe que ando por lá desde 2014. É a minha 1a casa. Foi onde me estreei como wedding planner sempre ao lado do Sr. Adérito. Tem mudado bastante nestes últimos 10 anos para alegria de muitos casais que tem agora a possibilidade de ter ao seu lado a maior parte dos seus convidados, ou até mesmo todos! Sem falar mas famosas barricas que todos querem experimentar. Uma noite dentro de um barril. É uma aventura!

Bem, mas seguimos e retomamos o que me leva a escrever hoje este post. A Clara e o David foram uns noivos extraordinários. Escolheram com praticidade os seus fornecedores com a minha ajuda. Já tinham bem em mente o que gostariam que o seu dia fosse e os valores que gostariam de gastar. Quando assim o é, o nosso trabalho como planners é bem facilitado. Quando ouvem o nossos conselho e deixam o trabalho de pesquisa do nosso lado, tudo flui. E o dia chegou num instante.

Estávamos ainda a sair de pandemia (verdade, já podia ter publicado há um tempão, mas não tenho dado muita atenção ao blog, precisava de mais duas…vá quatro mãos!!!) e eu acabei por ter de ir fazer o casamento sozinha porque o meu pessoal do protocolo ficou de Covid e logo aqui percebi que ia ser um dia para fazer muitos quilómetros, mas pelo menos a vista ia compensar.

A capela ainda estava fechada. O tempo esgotava-se por entre os dedos e o Padre ainda almoçava. A vista da Capela de S Leonardo – Miradouro da Galafura era magnífica. Demasiados carros a estacionarem ali em volta (afinal de contas é um espaço público e não podemos fechar o Miradouro. O Padre chega com a sua calma e eu já em contra relógio a fazer o trabalho de duas e ainda a 25m de distância da pacheca.

Coloquei a decoração no sítio (poupei uma ida do pessoal da Decoração à igreja), os missais, recebi os músicos, indiquei-lhes o seu lugar. Aguardei a chegada de todos e fiz o protocolo entre português e francês com a ajuda do noivo que estava ansioso e ao mesmo tempo descontraído. E atingiu-me que nem um raio: olhei para o meu plano e percebi que não tinha trazido a carpete branca da noiva. Mas o noivo diligente tinha trazido! (falhei…como podia ter isto acontecido?? como me esqueci de um rolo que é quase maior do que eu? falhei porque estou a fazer o trabalho de três e estou cansada e ansiosa e atarefada…mas falhei e não gostei do que senti apesar do ambiente estar leve).

Deixei-os entregues aos fotógrafos e vídeografo e saí. Todos tinham a indicação do que fazer quando terminasse a cerimónia e antes de saírem em direção à Pacheca.

Quando a equipa se conhece, todo o trabalho é feito em EQUIPA. Eu sou só uma parte que os une, mas não sou nada sem eles.

Entretanto na Quinta finalizávamos a decoração, quando percebemos que o vento teimava em ficar. Entre cruzar os dedos e pedir a S. Pedro que nos desse uma trégua, fomos acreditando que o candelabro alto que caía era o último a cair porque o vento ia dar lugar ao tempo ameno que se fazia sentir. Mas, a apreensão começou a instalar-se.

Podia continuar a contar os minutos todos que se seguem, mas o importante é deixar aqui um testemunho de que há dias tramados e este foi um deles. Os nomes dos convidados não vieram separados por mesa e por ordem alfabética (como sempre peço: mas foi a noiva que tratou deles e eu esqueci de mencionar esse pequeno grande pormenor que faz com que percas mais de 1h só a tratar de separar nomes por mesa…) e o vento…. o vento não nos deu tréguas…

Entre várias tentativas de adiarmos a decisão, entre muitos pedidos para que o céu fechasse uma das portas e a corrente de ar se sumisse…. Tivemos de tomar a difícil decisão de mover tudo para o interior. Não foi uma decisão fácil porque a expectativa era grande como vocês imaginam. Toda a equipa Amor Pra Sempre (Eu! lembram o covid?) e toda a equipa da decoração (Maria Papoila) e da Pacheca trabalharam de forma célere, ainda que com alguma pontinha de tristeza e desapontamento, por termos de estar a mudar um cenário que estava na cabeça dos noivos há já muito tempo.

É claro que ficou tudo maravilhoso (é claro que não tive tempo de colocar os nomes das pessoas nas mesas porque o tempo foi-se escoando pelos nossos dedos e tive de tomar a decisão de fazer protocolo e sentar as pessoas nos seus devidos lugares e é claro que muitas delas pediram para trocar de lugar à revelia do que os noivos tinham ditado).

Foi mágica a entrada deles na sala, O sorriso deles era contagiante e o que ali se viveu não mudou em nada o rumo da festa e o dia mágico que a Clara e o David tiveram.

Mas não foi fácil a tomada de decisão e não foi fácil para mim admitir que pela primeira vez falhei. Falhei. Falhei na capela quando me esqueci da passadeira. Falhei não coloquei o nome nas mesas. Sem desculpas. Falhei. E isso ficou a a pairar em cima de mim a noite toda até ter o abraço do noivo e sentir que estava tudo bem e ao ver o sorriso da noiva e perceber que somos todos humanos e que no meio de tanta expectativa, eles ainda conseguiram ter os olhos de Clara e David: pessoas práticas e serenas que nos veêm como somos e não como eles imaginavam que fossemos. E é normal falhar. Mesmo que nos custe muito.

Haverá momentos em que tudo acontece como está escrito no papel, outros haverá que o papel vai ficar ligeiramente esbatido e vamos ter de imaginar o que lá estava escrito e haverá ainda outros momentos em que o papel se vai perder ou estragar e teremos de improvidar. Sem culpa. Seguindo sempre sendo quem somos e acreditando que quem está do outro lado não se esquece que somos todos iguais.

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